Ainda sobre a IX Caminhada Noturna, aqui fica o desenho cartográfico do percurso feito e um texto escrito pelo conterrâneo João Vaz, para a comunicação social:
"IX Caminhada
Noturna: calcorrear as entranhas da
paisagem.
Sexta-feira,
último dia do mês de agosto do corrente ano, o Centro Cultural voltou a
organizar o périplo pelas encostas / vertentes graníticas do vale de fratura,
sítio da freguesia de Famalicão, do concelho da Guarda, com 615 habitantes, em
2011, integrada no Parque Natural da Serra da Estrela.
Compareceram
72 «Peregrinos», sobretudo jovens e adultos, equidade em género, com vontade de
superar a paisagem natural, desafiante e harmoniosa.
Concluídas
as formalidades habituais, não faltando o carro de apoio e as lanternas,
partimos da Praça (Largo Professor Renato Dias de Almeida), que se encontra a
650 metros de altitude, por volta das 21 horas.
Percorremos
os primeiros metros, até ao chafariz, em estrada asfaltada, para depois
entrarmos em terreno de “macadame”. Após percorridos 1900 metros, chegamos à
estrada nacional 18-1, que fica a 700 metros de altitude. Rumamos ao Castelão
(sudeste), em piso asfaltado, e por volta das 22 horas foi alcançado,
percorridos que estavam 3800 metros, a uma altitude de 800 metros. Fizemos a
primeira paragem, incorporamos os primeiros supletivos.
Em
plena encosta este (sudoeste→nordeste), ocupada pelo souto, uma mancha enorme
de castanheiros (Castanea sativa), paisagem incomparável, caminhamos na
direção nordeste, em terreno de “macadame”, exigente. Às 22h25, percorridos
4800 metros, a 895 metros de altitude, nova paragem para repor as energias,
perto do Penedo Agudo. Seguimos a direcção norte, caminho aplanado, e
alcançamos «na catraia», a 870 metros de altitude, cerca das 23h30, novamente a
estrada nacional 18-1, onde fizemos a 3.ª paragem, já com 9500 metros nas
pernas. Nesta encosta há um sentimento de perda, além do desagradável aspeto
visual e do desconfortável silvar das pás dos aerogeradores, implantados no
cume da serra, a paisagem ficou descaraterizada e empobrecida, de difícil
aceitação.
Entrados
na encosta oeste (nordeste→sudoeste), é uma paisagem quase despida, por
diversas vezes a vegetação foi consumida pelo fogo, nalguns casos com
consequências trágicas, nomeadamente percas humanas, relembro o dia 9 de Julho
de 2006, em que seis Soldados da Paz perderam a vida, fica para sempre inscrito
na nossa memória. As resinosas têm alguma expressão, como por exemplo os
pinheiros-bravos (Pinus pinaster), intercalados com algumas
caducifólias, o carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e giestas (Cytisus
striatus). Em caminho “mais amigo”, tomamos a direção sudoeste. Às 23h50, a
830 metros de altitude, cruzamos às «casas geminadas». Às 00h15, percorridos
13600 metros, passamos pelos depósitos de abastecimento de água à população da
aldeia, avizinhamos a casa do “Zé Rancozinho”. Umas centenas de metros mais à
frente, pelas 00h25, percorridos 14000 metros, a 670 metros de altitude, junto
à escola do ensino Pré-Escolar, um compasso de espera pelos retardatários. Às 00h35,
percorridos 15000 metros, chagamos finalmente ao ponto de partida. Para
encerrar a atividade houve ainda lugar à confraternização… dos resistentes.
Os promotores da interessante e
importante iniciativa, centrada nos valores locais, estão de parabéns. É um
privilégio contatar a biodiversidade, a geodiversidade e os recursos naturais
deste ”nicho territorial” que urge conservar, valorizar e recriar. Exercer uma
cidadania plena é quebrar a rotina, participar, ser assertivo e solidário.
Reinventar é preciso, deixo aqui um desafio para que a próxima iniciativa seja
em ambiente diurno.
Os famalicenses construíram e
vivem nesta paisagem e território rural, numa relação biunívoca: é esta
«intimidade» Homem-Natureza, que dá consistência ao desenvolvimento
sustentável."
João Manuel da Cunha Vaz - setembro de 2012.
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