sábado, 29 de setembro de 2012

...ainda sobre a IX Caminhada Noturna

Ainda sobre a IX Caminhada Noturna, aqui fica o desenho cartográfico do percurso feito e um texto escrito pelo conterrâneo João Vaz, para a comunicação social:
 
 
 "IX Caminhada Noturna: calcorrear as entranhas da paisagem.
Sexta-feira, último dia do mês de agosto do corrente ano, o Centro Cultural voltou a organizar o périplo pelas encostas / vertentes graníticas do vale de fratura, sítio da freguesia de Famalicão, do concelho da Guarda, com 615 habitantes, em 2011, integrada no Parque Natural da Serra da Estrela.
Compareceram 72 «Peregrinos», sobretudo jovens e adultos, equidade em género, com vontade de superar a paisagem natural, desafiante e harmoniosa.
Concluídas as formalidades habituais, não faltando o carro de apoio e as lanternas, partimos da Praça (Largo Professor Renato Dias de Almeida), que se encontra a 650 metros de altitude, por volta das 21 horas.
Percorremos os primeiros metros, até ao chafariz, em estrada asfaltada, para depois entrarmos em terreno de “macadame”. Após percorridos 1900 metros, chegamos à estrada nacional 18-1, que fica a 700 metros de altitude. Rumamos ao Castelão (sudeste), em piso asfaltado, e por volta das 22 horas foi alcançado, percorridos que estavam 3800 metros, a uma altitude de 800 metros. Fizemos a primeira paragem, incorporamos os primeiros supletivos.
Em plena encosta este (sudoeste→nordeste), ocupada pelo souto, uma mancha enorme de castanheiros (Castanea sativa), paisagem incomparável, caminhamos na direção nordeste, em terreno de “macadame”, exigente. Às 22h25, percorridos 4800 metros, a 895 metros de altitude, nova paragem para repor as energias, perto do Penedo Agudo. Seguimos a direcção norte, caminho aplanado, e alcançamos «na catraia», a 870 metros de altitude, cerca das 23h30, novamente a estrada nacional 18-1, onde fizemos a 3.ª paragem, já com 9500 metros nas pernas. Nesta encosta há um sentimento de perda, além do desagradável aspeto visual e do desconfortável silvar das pás dos aerogeradores, implantados no cume da serra, a paisagem ficou descaraterizada e empobrecida, de difícil aceitação.
Entrados na encosta oeste (nordeste→sudoeste), é uma paisagem quase despida, por diversas vezes a vegetação foi consumida pelo fogo, nalguns casos com consequências trágicas, nomeadamente percas humanas, relembro o dia 9 de Julho de 2006, em que seis Soldados da Paz perderam a vida, fica para sempre inscrito na nossa memória. As resinosas têm alguma expressão, como por exemplo os pinheiros-bravos (Pinus pinaster), intercalados com algumas caducifólias, o carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e giestas (Cytisus striatus). Em caminho “mais amigo”, tomamos a direção sudoeste. Às 23h50, a 830 metros de altitude, cruzamos às «casas geminadas». Às 00h15, percorridos 13600 metros, passamos pelos depósitos de abastecimento de água à população da aldeia, avizinhamos a casa do “Zé Rancozinho”. Umas centenas de metros mais à frente, pelas 00h25, percorridos 14000 metros, a 670 metros de altitude, junto à escola do ensino Pré-Escolar, um compasso de espera pelos retardatários. Às 00h35, percorridos 15000 metros, chagamos finalmente ao ponto de partida. Para encerrar a atividade houve ainda lugar à confraternização… dos resistentes.
Os promotores da interessante e importante iniciativa, centrada nos valores locais, estão de parabéns. É um privilégio contatar a biodiversidade, a geodiversidade e os recursos naturais deste ”nicho territorial” que urge conservar, valorizar e recriar. Exercer uma cidadania plena é quebrar a rotina, participar, ser assertivo e solidário. Reinventar é preciso, deixo aqui um desafio para que a próxima iniciativa seja em ambiente diurno.
Os famalicenses construíram e vivem nesta paisagem e território rural, numa relação biunívoca: é esta «intimidade» Homem-Natureza, que dá consistência ao desenvolvimento sustentável."
João Manuel da Cunha Vaz - setembro de 2012.
 
 

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